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As febres humanas

  • Guilherme Dantas
  • há 22 horas
  • 2 min de leitura
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As febres humanas nunca cessam.

emanam da terra e se espalham no ar,

ou descem do céu em forma de fogo,

caindo das nuvens como gotas de chuva.


Contamos os carros que passam.

Na calçada jaz um corpo estirado.

Morreu esta manhã ou talvez na noite passada;

é certo que foi vítima do mau tempo.


Há placas na estrada

avisando para não seguir.

A rodoviária está fechada

um corpo balança no porta-malas.


As consciências secam do lado de fora

dos apartamentos alugados.

O manto escuro da noite é cúmplice

dos bem-aventurados vigias noturnos.


A guerra estampa os jornais.

Nada parece mais importante

aos apostadores do fim do mundo,

que se gabam nos salões brilhantes.


Além dos nossos quintais,

Ofélia encara seu reflexo

e decide — por ela e pelas que virão —

o futuro dos primeiros amores.


Nada dói tão falso

quanto as promessa de um amante suicida.

O amor é uma extravagância

para aqueles olhos de botão.


Leva uma vida inteira

explicar a beleza de um quadro

a um cego que não amarra os sapatos.

Sou um idiota por ainda estar aqui sentado.


E se as bombas caírem lá fora?

Perderia o espetáculo

do grande portal da destruição,

sugando até a esperança de Pandora.


Voltaríamos ao começo

e começaríamos de novo.

Seríamos deuses para eles,

mortais com uma estrela.


Esvazie os bolsos

e coloque tudo numa caixa.

É só isso que levaremos.

Nunca vão pedir mais.


Beijarão nossos pés

e louvarão meus últimos chicletes.

Vão ignorar o revólver prateado

que carrego junto ao meu pequeno diário.


Acredito que a hora chegou.

Vou cantar minhas dores em voz alta.

Ninguém vai entender esse sacrifício.

Você derrama lágrimas, Dizendo não suportar.


A culpa é sua de não superar.

Olhe para cima e veja duas luas.

Aprenda a amar o que é diferente

ou morra eternamente nas suas lembranças.


Autor: Guilherme Dantas.

 
 
 
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